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Blog do Luiz Sperry

Veja os produtos naturais que funcionam contra a depressão

Luiz Sperry

20/08/2018 04h00

Crédito: iStock

Como já falei aqui nesse espaço mais de uma vez, existem diversos tipos de tratamentos para as doenças mentais, em especial para a depressão. Apesar do predomínio da dupla medicação/psicoterapia –com méritos, inclusive, porque são modos bastante bons de se abordar o problema –, existem outros não tão conhecidos pelo grande público e muitas vezes pelos próprios especialistas de saúde mental.

No post passado falei sobre o CANMAT (que é a Rede Canadense para Tratamento do Humor e Ansiedade), um grupo que faz uma revisão muito criteriosa sobre todos os tratamentos disponíveis e tenta organizar um tipo de manual para ajudar os psiquiatras a tratar essas doenças. Vimos que uma série de tratamentos que não incluem medicação, como exercícios físicos e banhos de sol, podem ter ação antidepressiva.

Existe também uma série de produtos "naturais" que incluem fitoterápicos, vitaminas e sais minerais que também podem ser utilizadas no tratamento da depressão. Existe no mercado muitos produtos desse tipo que alardeiam ter propriedades antidepressivas. O CANMAT selecionou quais são as que têm mais evidências de sucesso:

Erva de São João (Hypericum perforatum)

Como o próprio nome diz, é uma erva, cujo extrato contém as substâncias hipericina e hiperforina. Elas agem na recaptação de serotonina e na ação da monoamina oxidase neuronal de modo muito semelhante aos antidepressivos. Seu nível de eficiência é comparável aos antidepressivos e superior ao placebo em diversos estudos diferentes.

Não parece ser muito boa no tratamento das depressões graves. Apesar de ser bem tolerada, pode ter algumas interações medicamentosas importantes, como cortar o efeitos de alguns antirretrovirais utilizados no tratamento do HIV, por exemplo. Indicada como primeira linha para depressões leves e moderadas.

Ômega-3

É um tipo de gordura encontrado principalmente em óleo de peixe e algumas sementes, largamente utilizado por seus possíveis benefícios cardíacos. No entanto, em dosagens mais altas que o usual, a partir de 3 gramas ao dia, tem resultados surpreendentes no tratamento da depressão.

Existem duas frações mais conhecidas do ômega-3, o EPA e o DHA. O EPA tem maior efeito antidepressivo que o DHA, ou seja, fórmulas com maior proporção de EPA tendem a ser mais efetivas. Como efeito adverso pode-se dizer que são poucos, como diarreia e náusea. Não é raro algumas pessoas reclamarem que estão exalando eventualmente um certo odor de peixe (é verdade, eu já vi). Indicação como segunda linha em depressões leves e moderadas ou associada para depressões graves.

SAMe

S-sdenosil-L-metionina é uma substância naturalmente encontrada no organismo e que pode ser encontrada como suplemento. Acredita-se que possa estar envolvida na transmissão neuronal. Alguns trabalhos mostram também ação no tratamento de dor em pacientes com osteoartrite. Ainda pouco utilizada no Brasil, é indicada como segunda linha em associação com antidepressivos para depressões leves, moderadas e graves.

Outros tratamentos:

  • Acetil-L-carnitina, relativamente famosa como suplemento por suas possíveis propriedades antioxidantes e termogênicas;
  • Crocus sativus, vulgo açafrão (não confundir com açafrão da terra, a cúrcuma, que é outra planta);
  • L-metil-folato, que é uma formulação do ácido fólico, mostraram eficácia superior ao placebo e semelhante aos antidepressivos de referência, como por exemplo a fluoxetina;
  • DHEA: deidroepiandrosterona, um hormônio masculino que apesar de funcionar como antidepressivo, traz todos os problemas decorrentes do uso dessas substâncias;
  • Tintura de lavanda: é notável aqui a presença de um floral (!). Em associação mostrou aumentar o efeito do antidepressivo.

Todos esses tratamentos citados acima são considerados tratamentos de terceira linha, pois apesar dos resultados positivos, estes não foram demonstrados em grande escala.

Mas nem tudo funciona

Por fim existem ainda substâncias como o triptofano (um aminoácido), Rhodiola rosea (uma planta utilizada na medicina tradicional russa e escandinava) ou o inositol que não resistiram à análise estatística do CANMAT e não são recomendados para o tratamento da depressão, nunca, jamais. Ou pelo menos até a nova edição das diretrizes.

O interessante é que essa grande quantidade de possibilidades, associada ainda aos antidepressivos e às psicoterapias, nos mostra o quão complexa é a questão do funcionamento do humor e das doenças mentais. Uma complexidade que vai muito além do "falta serotonina".

Sobre o autor

Luiz Sperry é médico psiquiatra formado pela USP em 2003. Adora a cidade de São Paulo, onde nasceu e cresceu. Já trabalhou nos 4 cantos dela, inclusive plantão em pronto-socorro (tipo ER mesmo), Unidade Básica, HC, Emílio Ribas, hospícios e hospitais gerais. Foi professor de psicopatologia na Faculdade Paulista de Serviço Social e hoje em dia trabalha em consultório e supervisiona residentes do HC.

Sobre o blog

Um espaço para falar das coisas psi em interface com o que acontece no dia a dia, trazendo temas da atualidade sem ser bitolado.

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