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Blog do Luiz Sperry

Conheça os tratamentos alternativos para a depressão

Luiz Sperry

13/08/2018 04h00

Crédito: iStock

Em geral, para tratar doenças mentais como a depressão, os médicos se baseiam no que está escrito nos livros e na literatura médica. Apesar de a maior parte desses trabalhos consagrar a dobradinha medicação-psicoterapia, existe um número considerável de pesquisas que procuram outros tratamentos para tentar trazer alguma solução para todo esse sofrimento.

Alguns tratamentos que não são nem medicação nem psicoterapia são tão antigos e consagrados que nem lhes cabe mais a alcunha de alternativos. É o caso da eletroconvulsoterapia, que já abordei em post recente, mais antiga que a própria psicofarmacologia. Mas existem novas possibilidades por aí, a grande maioria desconhecida até mesmo pelos próprios médicos.

Existe um manual canadense chamado CANMAT que me agrada muito, inclusive por incluir um capítulo inteiro sobre o que chamamos arbitrariamente de tratamentos alternativos. O CANMAT faz um trabalho bastante minucioso, comparando os diversos estudos e seus resultados.

Entre esses tratamentos alternativos existem os que chamamos de físicos (como exercícios, ioga ou fototerapia) ou os chamados "naturais", que seriam ervas e suplementos (como erva de São João, ômega 3 ou triptofano). Os resultados muitas vezes são surpreendentes.

Vamos primeiro aos físicos, seguindo dos mais estudados e eficientes para os menos estudados:

  • Exercícios físicos: pois é, se você abriu esse post esperando algo que fosse fácil e rápido… surpresa! Você não vai se livrar da academia tão facilmente. Exercícios físicos parecem ser tão efetivos quanto os próprios antidepressivos para tratamento de depressão leve e moderada. Isso se considerarmos o exercício sozinho, sem associar com a medicação, o que também pode e deve ser feito sempre que possível, inclusive nos casos graves. E quanto de exercício é necessário? Apenas 30 minutos, três vezes por semana já serve. Não se constatou vantagem de exercícios aeróbicos em relação à musculação, os dois funcionam.
  • Fototerapia: outra medida mais ou menos simples, a exposição à luz de forte intensidade, tipo a do Sol, por 30 minutos diários tem efeito antidepressivo comprovado. A fototerapia é particularmente eficiente quando utilizada para a chamada depressão sazonal, que é aquele tipo de depressão que sempre volta numa determinada época do ano. Serve também para as outras formas de depressão e, claro, você pode combinar também com as medicações e com os exercícios. Acima de tudo, é gratuito e você nem tem que se mexer, é só ficar como uma tartaruga no sol que já funciona. Mas o efeito não é imediato, pode demorar até três semanas para que os benefícios sejam sentidos.
  • Ioga: ao contrário da fototerapia e dos exercícios convencionais, não existem estudos suficientes que permitam que a ioga seja referendada como tratamento único da depressão. Mas as pesquisas que existem mostram bastantes benefícios e praticamente nenhum efeito adverso decorrente de sua prática. Além disso, existem estudos que relacionam as vantagens da ioga em casos de ansiedade, que costuma se apresentar junto com os transtornos depressivos.
  • Acupuntura: as pesquisas utilizando acupuntura para tratar a depressão são ainda um pouco mais controversas. Enquanto algumas demonstram eficiência, outras não demonstram diferença nenhuma. Além disso em alguns casos, o agulhamento aleatório (não em pontos específicos de acupuntura) mostram eficiência comparável à acupuntura em si. De todo modo a acupuntura é recomendada como tratamento de terceira linha, em associação, com outros métodos mais referendados.
  • Privação de sono: esse é provavelmente o mais estranho dos tratamentos alternativos. Partimos do princípio que o restabelecimento do sono é uma parte fundamental do tratamento da depressão e da saúde mental de uma forma geral. E então surgem vários trabalhos mostrando que pacientes com depressão grave apresentam uma melhora rápida quando submetidos à interrupções no seu ciclo de sono. Podem ser algumas horas no meio da noite ou mesmo uma virada de noite direto. Apesar da privação de sono demonstrar efeitos imediatos, eles infelizmente não são duradouros. Além do sono subsequente no dia seguinte, ela é contraindicada para quem tem epilepsia, pois a privação de sono pode desencadear crises

Esses são os principais métodos físicos cientificamente validados. Não quer dizer que sejam os únicos, mas creio que se mesmo esses já entram na área de uma certa incerteza, fico imaginando porque alguém ia querer se tratar com algo mais incerto ainda, como cromoterapia, por exemplo. Vocês devem ter percebido também que não falei também dos métodos ditos "naturais". A razão é mais prosaica: ia ficar longo demais e você talvez ficasse com preguiça de ler inteiro. Mas não fique triste, na semana que vem tem mais. Até lá!

 

 

Sobre o autor

Luiz Sperry é médico psiquiatra formado pela USP em 2003. Adora a cidade de São Paulo, onde nasceu e cresceu. Já trabalhou nos 4 cantos dela, inclusive plantão em pronto-socorro (tipo ER mesmo), Unidade Básica, HC, Emílio Ribas, hospícios e hospitais gerais. Foi professor de psicopatologia na Faculdade Paulista de Serviço Social e hoje em dia trabalha em consultório e supervisiona residentes do HC.

Sobre o blog

Um espaço para falar das coisas psi em interface com o que acontece no dia a dia, trazendo temas da atualidade sem ser bitolado.

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