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Blog do Luiz Sperry

Qual a duração do tratamento psiquiátrico?

Luiz Sperry

24/12/2018 04h00

Crédito: iStock

Uma coisa que sempre me perguntam é a duração do tratamento psiquiátrico. Pode parar? Tem que tomar para sempre? Não existe uma resposta precisa. Às vezes pode parar, às vezes tem que tomar para sempre. Foi pensando nisso que resolvi escrever esse post categórico sobre o assunto.

Como você talvez possa imaginar, depende de qual doença a gente quer tratar. Em geral, podemos dividir as doenças/transtornos mentais em dois grupos: as agudas e as crônicas.

As agudas são as que têm começo, meio e fim, já as crônicas só têm começo e meio, não têm fim. Quer dizer, têm, se considerarmos que a morte é o fim de tudo. Mas nesses casos tomar remédio para sempre é, sim, uma opção. 

Ao menos podemos dizer que a depressão e o pânico, certamente as doenças com maior impacto social, são doenças agudas e seu tratamento medicamentoso preconizado é de seis meses a um ano. É, sob certo ponto de vista, um número cabalístico, mas tem seu motivo.

Vejamos no caso da depressão. O que a gente sabe é que, se você conseguir a remissão dos sintomas depressivos, ou seja, sumir com 100% dos sintomas, e mantiver essa estabilidade por pelo menos seis meses, sem mexer na dosagem, a chance de ter outro episódio é de 40%. Não sei você, mas eu já acho um número alto.

Agora, o problema é que, se não houver remissão ou se a manutenção for feita por um período menor que os tais seis meses, a chance de ter uma recaída sobe para assustadores 90%. Estamos falando da depressão, mas os números do pânico são bastante parecidos. Sob esse ponto de vista, podemos afirmar que as doenças mentais têm uma grande chance de recorrer.

Já em relação às doenças crônicas, não podemos nos dar a esse luxo. Em casos como esquizofrenia ou transtorno bipolar, o medicamento deve ser mantido de forma contínua, para evitar que o paciente entre em crise. O risco do paciente entrar numa crise grave é muito alto e suplanta os possíveis riscos do uso contínuo dos medicamentos.

Existe também o fato de que, uma vez que a depressão foi e voltou várias vezes, mesmo o tratamento sendo feito à risca, é necessário mudar de estratégia. Nesse caso, a depressão passa a ser encarada como uma doença crônica e o antidepressivo pode, e deve, ser mantido por prazo indeterminado.

Por último, acredito que uma leitura individual de cada caso deve ser feita. Toda doença mental está inserida na história pessoal do sujeito e cada processo precisa da sua devida resolução. Explico: se a crise surgiu no desenlace de uma desilusão amorosa ou de uma questão trabalhista, essa questão de base tem que ser resolvida. Isso não está no livro, é opinião pessoal minha. Faça bom proveito.

Feliz Natal a todos!

Sobre o autor

Luiz Sperry é médico psiquiatra formado pela USP em 2003. Adora a cidade de São Paulo, onde nasceu e cresceu. Já trabalhou nos 4 cantos dela, inclusive plantão em pronto-socorro (tipo ER mesmo), Unidade Básica, HC, Emílio Ribas, hospícios e hospitais gerais. Foi professor de psicopatologia na Faculdade Paulista de Serviço Social e hoje em dia trabalha em consultório e supervisiona residentes do HC.

Sobre o blog

Um espaço para falar das coisas psi em interface com o que acontece no dia a dia, trazendo temas da atualidade sem ser bitolado.

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