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Blog do Luiz Sperry

Antidepressivo não é tudo a mesma coisa; entenda as diferenças entre cada

Luiz Sperry

16/04/2018 04h00

Crédito: iStock

Em 2018, a fluoxetina completou 30 anos no mercado, com direito a uma bela reportagem do VivaBem de aniversário. Seu lançamento serve como um marco, a partir do qual o uso de antidepressivos se disseminou pelo mundo todo. Embora esse movimento provoque reações favoráveis e contrárias, poucas pessoas sabem de fato quais as diferenças entre os antidepressivos.

De uma maneira geral, os antidepressivos agem sobre alguns tipos de neurotransmissores. Como cada neurotransmissor tem uma ação específica sobre os neurônios, tipos diferentes de antidepressivos podem ter ações diferentes sobre os sintomas.

E, evidentemente, os efeitos variam de pessoa para pessoa. Ou seja, o mesmo remédio pode causar em um paciente um efeito e, em outro paciente, outra reação. O melhor jeito de explicar como funcionam os antidepressivos dividindo-os por classes. Então, vamos lá:

  • Inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS): é a família da fluoxetina. Como diz o nome, eles agem exclusivamente aumentando a ação de serotonina, que é o principal neurotransmissor envolvido no tratamento da depressão. Ao se aumentar a ação da serotonina, conseguimos melhorar o humor depressivo, a ansiedade, a disposição e o tipo de pensamento negativo que é típico dos quadros de depressão. São medicações em geral bem toleradas, mas não livres de efeitos adversos. Os principais são alterações gastrointestinais (em geral passageiras) e disfunções sexuais (não tão passageiras assim). São ISRS, além da fluoxetina, a sertralina, paroxetina, citalopram e escitalopram.
  • Antidepressivos tricíclicos (ADT): é a velha guarda dos antidepressivos. Eram os principais existentes até o surgimento dos ISRS nos anos 80. Também aumentam o efeito da serotonina, mas não são seletivos, tem diversas outras ações, que em geral causam mais efeitos colaterais, como ganho de peso, sonolência, boca seca e prejudicar bastante o hábito intestinal. Tem também efeito sobre a noradrenalina, o que pode ajudar no tratamento da depressão e dores crônicas/enxaqueca. Mas isso torna os ADTs potencialmente mais perigosos para pacientes que já tenham doenças prévias como arritmias, por exemplo. São ADTs a amitriptilina, nortriptilina, imipramina e clomipramina.
  • Inibidores da monoaminoxidase (IMAOs): Também da velha guarda, são bastante potentes, aumentam os níveis de serotonina, noradrenalina e dopamina. No entanto, causa diversos efeitos colaterais, como variações de pressão e tontura além de ser muito perigoso se associado com outras medicações e até mesmo com certos alimentos, como queijos e vinhos. Por esse motivo é utilizado em geral nos casos mais graves. No mercado temos os IMAO tranilcipromina e moclobemida.
  • Inibidores de recaptação de serotonia e noradrenalina (IRSN) ou inibidores duais: combinam a ação antidepressiva da serotonina com um plus de noradrenalina, que aumenta a disposição,  energia e concentração (mas sem os efeitos ruins dos tricíclicos). Muitas vezes são utilizados também no tratamento de síndromes dolorosas crônicas, como a fibromialgia. Dão menos disfunção sexual que os ISRS. Os principais são venlafaxina, desvenlafaxina (utilizados mais como antidepressivo) e duloxetina (utilizado mais para tratamento da dor).
  • Inibidor de recaptação de noradrenalina e dopamina: é uma classe de um antidepressivo só, a mais ou menos famosa bupropiona. A bupropiona faz sucesso por ser o principal medicamento utilizado para se tratar o tabagismo. Mas é também um antidepressivo interessante, um dos poucos que não mexe com a ação da serotonina. E exatamente por isso ele não dá disfunção sexual. Μas como nem tudo é perfeito nesse mundo, é por isso também que é um antidepressivo um pouco mais fraco e particularmente ineficaz em quadros de ansiedade.

Bem, esses são os principais. Ainda existem outros, como a mirtazapina, que tem um mecanismo de ação complicado, mas em última instância aumenta também serotonina e noradrenalina (e é muito eficiente) e a agomelatina (que atua sobre a melatonina, não é tão eficiente assim).

Mais importante do que saber o que faz cada um, é saber que existem diferenças entre eles.  Eventualmente, uma medicação não funcionar ou causar um efeito colateral não é motivo para abandonar o tratamento, faz parte do processo. E é bom saber que temos algumas ou até mesmo várias alternativas.

E lembre-se: nunca tome um medicamento por conta própria. É imprescindível fazer todo o tratamento com o acompanhamento de um psiquiatra.

Sobre o autor

Luiz Sperry é médico psiquiatra formado pela USP em 2003. Adora a cidade de São Paulo, onde nasceu e cresceu. Já trabalhou nos 4 cantos dela, inclusive plantão em pronto-socorro (tipo ER mesmo), Unidade Básica, HC, Emílio Ribas, hospícios e hospitais gerais. Foi professor de psicopatologia na Faculdade Paulista de Serviço Social e hoje em dia trabalha em consultório e supervisiona residentes do HC.

Sobre o blog

Um espaço para falar das coisas psi em interface com o que acontece no dia a dia, trazendo temas da atualidade sem ser bitolado.

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